Médicos Sem Fronteiras (MSF) executou vários projetos no Sudão do Sul em 2023, prestando cuidados a pessoas afetadas pela violência, deslocamento, surtos de doenças e desastres naturais.  

O acesso aos cuidados de saúde continua sendo um grande desafio para o povo do Sudão do Sul, com dois terços das instalações de saúde do país não funcionais. Apesar da forte presença de organizações humanitárias, a redução do financiamento teve um impacto significativo na prestação de cuidados médicos. Durante o ano, o recrudescimento do conflito no vizinho Sudão e os surtos recorrentes de doenças em muitas áreas do país exacerbaram os problemas existentes de deslocamentos, insegurança alimentar e falta de cuidados de saúde básicos, incluindo imunização. 

Em 2023, a nossa resposta no Sudão do Sul continuou a ser uma das maiores que realizamos em qualquer parte do mundo. Fornecemos uma ampla gama de serviços de saúde básica e especializada a comunidades remotas, refugiados e pessoas deslocadas pela violência, por meio de clínicas fixas e móveis e de programas comunitários. Além de responder a emergências e surtos de doenças, as nossas equipes realizaram atividades preventivas, incluindo campanhas de vacinação e sessões de sensibilização sobre saúde física e mental. Trabalhando em sete dos 10 estados e em duas áreas administrativas, as nossas equipes prestaram serviços de saúde a mais de um milhão de pessoas em todo o Sudão do Sul. 

 

Ajudar pessoas afetadas por conflitos 

Após a início do conflito no Sudão em 2023, mais de 600.000 pessoas fugiram para o Sudão do Sul, 80% delas repatriadas do Sudão do Sul e o restante refugiados em busca de segurança. As nossas equipes criaram clínicas móveis em torno dos centros de trânsito para repatriados e refugiados em Renk, uma cidade na fronteira com o Sudão.  

No estado do Alto Nilo, ajudamos os repatriados no centro de trânsito de Bulukat operando uma unidade médica que oferece exames gerais, vacinação, apoio social e programas de proteção. Também transferimos pacientes que precisavam de cuidados hospitalares para nossas instalações em Malakal. Além disso, prestamos assistência às pessoas em Wedweil por meio de clínica de saúde móvel e do transporte diário de água. Estes centros de trânsito continuam a receber ativamente os recém-chegados. 

Em Renk, o ponto de entrada mais movimentado, criamos uma unidade de isolamento contra o sarampo e uma enfermaria de alimentação terapêutica no hospital distrital para crianças com subnutrição aguda grave. As nossas equipes também realizaram campanhas de vacinação e distribuíram mosquiteiros em resposta a um aumento alarmante de casos de malária. 

Durante o ano, nossas equipes também responderam a emergências relacionadas à violência decorrentes de conflitos no Sudão do Sul, que forçaram milhares de pessoas a fugir de suas casas. Em Melut, fornecemos assistência médica básica para famílias deslocadas e encaminhamentos para pacientes que precisavam de cuidados especializados, e trabalhamos para melhorar as instalações de saneamento e higiene.  

Em agosto, nossa Unidade de Resposta a Emergências do Sudão do Sul lançou uma intervenção para repatriados em Paloich para lidar com altos níveis de subnutrição aguda grave e um surto de sarampo. Também fornecemos consultas gerais de saúde e distribuímos itens de socorro, como mosquiteiros, barras de sabão e galões para famílias. Em Kodok, nos concentramo em atender às necessidades de saúde mental de pessoas traumatizadas por conflitos e violência. Em Yei, uma área afetada por conflitos em curso, expandimos significativamente nossas atividades por meio de gerenciamento integrado de casos comunitários e clínicas móveis. 

Em fevereiro de 2023, MSF abriu um hospital recém-reabilitado em Kajo Keji, em parceria com o Ministério da Saúde. Este projeto reponde às necessidades das pessoas que fugiram para Uganda durante a guerra no Sudão do Sul, que destruiu os edifícios hospitalares, e que agora regressam. 

 

Respondendo a surtos de doenças 

Ondas repetidas de deslocamento exacerbaram a disseminação do sarampo e de outras doenças. No hospital de Bentiu, aumentamos a capacidade de leitos de 10 para 25 para o tratamento de casos graves de sarampo e apoiamos o Ministério da Saúde na realização de uma campanha de vacinação em massa contra o sarampo para pessoas deslocadas durante um surto. Em Lankien, nossas equipes também forneceram tratamento e vacinação. 

Durante um surto de cólera em Malakal, vimos um número crescente de pacientes com diarreia não sanguinolenta no abrigo de Proteção de Civis. Nossas equipes aumentaram a capacidade de leitos na unidade de saúde e realizaram atividades de promoção da saúde na comunidade. 

Em setembro, o Ministério da Saúde declarou um surto de hepatite E no condado de Fangak. Em resposta, lançamos uma campanha de vacinação – a primeira no Sudão do Sul a ser realizada nas fases iniciais de um surto ativo num local tão remoto – dirigida a mulheres e jovens adultas em idade fértil, o grupo mais vulnerável à doença. 

 

Subnutrição 

As principais causas da desnutrição são a insegurança alimentar, o acesso insuficiente à água limpa e ao saneamento e a assistência médica precária. Infelizmente, tudo isso está presente no Sudão do Sul, juntamente com outros fatores agravantes, como surtos de doenças, conflitos e deslocamentos. No final de 2023, o país enfrentava uma crise de subnutrição que afetava cerca de sete milhões de pessoas, e esse número deve aumentar em 2024. 

Em um esforço para combater a crise, criamos enfermarias de nutrição pediátrica em todas as nossas unidades de saúde em todo o país, onde as nossas equipes oferecem cuidados hospitalares e administram programas de alimentação intensiva para crianças gravemente doentes. 

 

Violência sexual e de gênero 

Nossas unidades de saúde oferecem atendimento abrangente com foco em vítimas e sobreviventes de violência sexual e de gênero. Como a falta de acesso a atendimento para vítimas e sobreviventes que buscam tratamento após violência sexual continua sendo um desafio importante nas áreas em que atuamos, nossas equipes têm trabalhado com modelos de atendimento baseados na comunidade para resolver alguns dos desafios de acesso, ao mesmo tempo em que defendem com todas as organizações relevantes para ampliar sua resposta. 

 

MSF Academia 

Anos de conflito e subinvestimento em assistência médica no Sudão do Sul levaram a uma escassez de profissionais de saúde qualificados e à falta de infraestrutura médica. 

Para combater esta situação, lançamos o programa Academy for Healthcare para melhorar a qualidade da assistência médica. Em 2023, 171 alunos de Lankien, Malakal e Old Fangak se formaram após 18 meses de treinamento. Também iniciamos o treinamento de funcionários em Ulang. 

Dados referentes a 2023

879.100

Consultas ambulatoriais

74.300

Pessoas internadas no hospital

5.570

crianças internadas em programas de nutrição

327.100

Casos de malária tratados 

14.100

Partos assistidos

2.530

Pessoas tratadas por causa de violência sexual

65.800

Vacinas contra o sarampo aplicadas em resposta a um surto

10.300

Intervenções cirúrgicas

3.773

Equivalente em tempo integral

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